Série de reportagem sobre o andamento do Programa Mais Luz para a Amazônia. Folha de São Paulo, setembro de 2022.

Série de reportagem sobre o andamento do Programa Mais Luz para a Amazônia. Folha de São Paulo, setembro de 2022.

A equipe de reportagem da Folha de São Paulo conheceu as experiências na Terra Indígena Xingu/MT, anteriores aos programas públicos de eletrificação e as expectativas e preocupações com o programa federal Mais Luz para a Amazônia. Acompanhou uma equipe de instalação nas Ilhas do Marajó/PA e mostrou como a geração distribuída com energia solar está avançando em Roraima. As reportagens mostram parte do desafio da região.

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Assembleia Geral da ONU declara acesso ao meio ambiente limpo e saudável um direito humano universal

Assembleia Geral da ONU declara acesso ao meio ambiente limpo e saudável um direito humano universal

Resolução observa que o direito a um meio ambiente saudável está relacionado ao direito internacional vigente e afirma que sua promoção requer a plena implementação de acordos ambientais multilaterais

Com 161 votos a favor e oito abstenções, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou uma resolução histórica nesta quinta-feira (28), declarando o acesso a um meio ambiente limpo, saudável e sustentável, como um direito humano universal. China, Rússia, Bielorrússia, Camboja, Irã, Síria, Quirguistão e Etiópia se abstiveram.

A resolução, baseada em um texto semelhante adotado no ano passado pelo Conselho de Direitos Humanos, pede aos Estados, organizações internacionais e empresas que ampliem os esforços para garantir um ambiente saudável para todos.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que o desenvolvimento histórico demonstra que os Estados-Membros podem se unir na luta coletiva contra a crise de mudança climática, perda de biodiversidade e poluição. “A resolução ajudará a reduzir as injustiças ambientais, fechar as lacunas de proteção e empoderar as pessoas, especialmente aquelas que estão em situação de vulnerabilidade, incluindo defensores de direitos humanos ambientais, crianças, jovens, mulheres e povos indígenas”, disse.

Guterres acrescentou que a decisão também ajudará os países a acelerar a implementação de suas obrigações e compromissos ambientais e de direitos humanos. “A comunidade internacional deu reconhecimento universal a esse direito e nos aproximou de torná-lo uma realidade para todos”, comemorou. No entanto, acrescentou, a adoção da resolução “é apenas o começo” e pediu às nações a tornarem esse direito recém-reconhecido “uma realidade para todos, em todos os lugares”.

 

Ação urgente necessária

Em comunicado, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, também elogiou a decisão da Assembleia e reforçou o apelo do secretário-geral por ações urgentes para implementar a resolução. “Hoje é um momento histórico, mas não basta simplesmente afirmar nosso direito ao meio ambiente saudável. A resolução da Assembleia Geral é muito clara: os países devem implementar seus compromissos internacionais e ampliar seus esforços para realizá-los. Todos sofreremos efeitos muito piores das crises ambientais, se não trabalharmos juntos para evitá-las coletivamente agora”, comentou.

Bachelet explicou que a ação ambiental baseada em obrigações de direitos humanos fornece proteções vitais para políticas econômicas e modelos de negócios. “Isso enfatiza a sustentação de obrigações legais de agir, em vez de simplesmente uma política discricionária. Também é mais eficaz, legítimo e sustentável”, acrescentou.

 

Uma resolução para todo o planeta

O texto, originalmente apresentado pela Costa Rica, Maldivas, Marrocos, Eslovênia e Suíça em junho passado e agora co-patrocinado por mais de 100 países, observa que o direito ao meio ambiente saudável está relacionado ao direito internacional vigente e afirma que sua promoção exige a plena implementação dos acordos ambientais multilaterais.

Também reconhece que o impacto das mudanças climáticas, a gestão e uso insustentável dos recursos naturais, a poluição do ar, da terra e da água, a má gestão de produtos químicos e resíduos e a consequente perda de biodiversidade interferem no gozo desse direito – e que o dano ambiental tem implicações negativas, diretas e indiretas, para o gozo efetivo de todos os direitos humanos.

De acordo com o Relator Especial da ONU sobre Direitos Humanos e Meio Ambiente, David Boyd, a decisão da Assembleia mudará a própria natureza da lei internacional de direitos humanos. “Os governos fizeram promessas de limpar o meio ambiente e lidar com a emergência climática por décadas, mas ter direito a um ambiente saudável muda a perspectiva das pessoas de ‘implorar’ para exigir que os governos ajam”, disse.

 

Uma vitória de cinco décadas em formação

Em 1972, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente em Estocolmo foi a primeira a colocar as questões ambientais na vanguarda das preocupações internacionais e marcou o início de um diálogo entre países industrializados e em desenvolvimento sobre o vínculo entre o crescimento econômico, a poluição do ar, da água e do oceano e o bem-estar das pessoas ao redor do mundo.

Os Estados-membros da ONU, na época, declararam que as pessoas têm o direito fundamental a “um meio ambiente de qualidade que permita uma vida digna e bem-estar”, pedindo ações concretas e o reconhecimento desse direito.

Em outubro passado, após décadas de trabalho de países na linha de frente das mudanças climáticas, além de mais de mil organizações da sociedade civil, o Conselho de Direitos Humanos reconheceu esse direito e pediu que a Assembleia Geral da ONU fizesse o mesmo.

“Desde a Declaração de Estocolmo de 1972, o direito foi integrado em constituições, leis nacionais e acordos regionais. A decisão de hoje eleva o direito a seu lugar: o reconhecimento universal”, explicou a chefe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Inger Andersen, em comunicado divulgado nesta quinta-feira.

Espera-se que o reconhecimento do direito a um ambiente saudável por esses órgãos da ONU, embora não seja juridicamente vinculativo – o que significa que os países não têm a obrigação legal de cumprir – deve ser um catalisador para a ação e para capacitar as pessoas comuns a responsabilizar seus governos.

“Então, o reconhecimento desse direito é uma vitória que devemos comemorar. Meus agradecimentos aos Estados membros e aos milhares de organizações da sociedade civil e grupos de povos indígenas, e dezenas de milhares de jovens que defenderam incansavelmente esse direito. Mas agora devemos aproveitar esta vitória e implementar o certo”, acrescentou Inger Andersen.

 

Tripla resposta à crise

O direito recém-reconhecido será crucial para enfrentar a tríplice crise planetária. Isso se refere às três principais ameaças ambientais interligadas que a humanidade enfrenta atualmente: mudança climática, poluição e perda de biodiversidade.

Cada um desses problemas tem suas próprias causas e efeitos e eles precisam ser resolvidos se quisermos ter um futuro viável na Terra.

As consequências das mudanças climáticas estão se tornando cada vez mais aparentes, através do aumento da intensidade e gravidade das secas, escassez de água, incêndios florestais, elevação do nível do mar, inundações, derretimento do gelo polar, tempestades catastróficas e declínio da biodiversidade.

Enquanto isso, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição do ar é a maior causa de doença e morte prematura no mundo, com mais de sete milhões de pessoas morrendo prematuramente a cada ano devido à poluição.

 

Por fim, o declínio ou desaparecimento da diversidade biológica – que inclui animais, plantas e ecossistemas – impacta o abastecimento de alimentos, o acesso à água potável e a vida como a conhecemos.

 

Fonte: Nações Unidas

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Crise do diesel expõe vulnerabilidade energética na Amazônia

Cerca de 97% da potência instalada nos Sistemas Isolados em 2018 era de usinas termelétricas a óleo diesel, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) (Foto: Getty Images)

Crise do diesel expõe vulnerabilidade energética na Amazônia

Cerca de 97% da potência instalada nos Sistemas Isolados em 2018 era de usinas termelétricas a óleo diesel, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) (Foto: Getty Images)

A possibilidade de faltar diesel no mercado interno e externo, levantada após o aumento da demanda europeia pelo combustível exportado pelos EUA e diante da defasagem dos preços domésticos ante os praticados no exterior, preocupa para além da logística e da produção na região amazônica. Com cerca de 4 milhões de pessoas sem acesso ao sistema nacional de distribuição, cidades e comunidades inteiras no norte do país dependem do diesel para geração de energia elétrica e estão expostos a apagões e racionamentos diante de um eventual desabastecimento do combustível.

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A Rede Energia & Comunidades com pesar, comunica o falecimento de nosso companheiro Alexandre Alberto Henklain Fonseca, neste 19 de abril de 2022.

A Rede Energia & Comunidades com pesar, comunica o falecimento de nosso companheiro Alexandre Alberto Henklain Fonseca, neste 19 de abril de 2022

A Rede Energia & Comunidades com pesar, comunica o falecimento de nosso companheiro Alexandre Alberto Henklain Fonseca, neste 19 de abril de 2022. Graduado em Engenharia Civil,   Alexandre atuou como executivo de empresas privadas e dirigiu entidades orientadas para o desenvolvimento sustentável, como Sebrae, Senai e IEL, tendo concebido e implantado numerosos projetos de capacitação de trabalhadores, empreendedores e da comunidade. Foi secretário estadual de Planejamento e Desenvolvimento de Roraima. Em 2019, articulou a criação do Fórum de Energias Renováveis de Roraima, do qual era coordenador desde então, atuando em prol do desenvolvimento energético da Amazônia.

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Mais luz para Amazônia vai demandar maior integração com comunidades locais

Mais luz para Amazônia vai demandar maior integração com comunidades locais

Aposta do governo para universalização da eletricidade na Amazônia Legal, a expansão da geração fotovoltaica para atender aos sistemas isolados ainda esbarra em dois fatores que elevam custos: logística e profissionais locais qualificados.

“Quando a gente olha para as regiões remotas dos sistemas isolados da Amazônia Legal, percebe que nesses locais as atividades de operação e manutenção envolvem uma complexidade muito maior”, explica Carlota Aquino, coordenadora executiva do Idec.

É nesse contexto que o setor privado passa a ver a comunidade desempenhando um papel mais ativo na operação e manutenção dos sistemas.

“Tanto a história nacional de eletrificação, quanto as experiências internacionais explicitam o impacto positivo da inclusão da comunidade nesse processo. E ela tende a mostrar, em contrapartida, os riscos quando há sua exclusão”, completa Carlota.

A questão foi discutida nesta terça (29) durante o webinar Eletrificação em regiões remotas da Amazônia Legal promovido pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

Instituído em fevereiro de 2020 pelo governo federal, o Programa Mais Luz para a Amazônia (MLA) propõe levar energia limpa e renovável a 70 mil famílias que vivem em áreas remotas, com recursos da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).

O mercado, por sua vez, dá sinais de força.

Os estados da Amazônia Legal experimentaram um salto de 169% no último ano na quantidade de consumidores com sistemas de micro ou minigeração distribuída. Superou o crescimento nacional de 111%.

Nos oito estados que compõem a região, mais de 53 mil consumidores estavam conectados a sistemas de mini e microgeração distribuída em 2020, ante 19,7 mil em 2019 — a maior parte no uso residencial, que representa 43% do consumo, segundo dados da Aneel.

Para 2022, a meta é atender pouco mais de 19 mil unidades consumidoras e o orçamento da CDE previsto é de R$ 423 milhões.

São comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas sem acesso às redes de distribuição convencionais.

Embora aproveitem a alta incidência solar da região, os painéis fotovoltaicos precisam de uma rotina de manutenção.

“O trabalho de manutenção precisa ser rotineiro e cotidiano, apesar de, muitas vezes, ser invisível para os usuários”, comenta Emilie Etienne, pesquisadora da Universidade de Grenoble, na França.

Segundo a especialista, a vida dos produtos solares é muito curta – de dez a vinte anos – e a falta de manutenção reduz ainda mais o tempo de operação desses sistemas.

E trouxe dados da América Latina e África para demonstrar o desafio.

Na Bolívia, por exemplo, 90% dos sistemas fotovoltaicos instalados há quatro anos ou mais estão fora de operação. No Peru, 34% dos sistemas fora da rede são relatados como inoperantes.

Já no Quênia, 20% dos produtos solares param de funcionar 18 meses após a compra. Em Madagascar, as taxas de desconexão chegam a 50% em algumas mini-redes.

No tema da qualificação, Emilie destaca a importância de incluir a comunidade local.

“Um exemplo é o programa das Mães Solares [no México], onde se capacitaram as mulheres, que são as pessoas que mais ficam na comunidade”.

Qualificar profissionalmente a população local para operar os equipamentos é uma saída para mitigar o custo final dos atendimentos das distribuidoras de energia.

“Muitas vezes, esses serviços relacionados aos sistemas fotovoltaicos podem ser serviços pequenos, fáceis de resolver, não precisa deslocar uma equipe grande. Ter gente local, treinada, capacitada para rapidamente ir ao local e verificar o problema é a melhor alternativa”, diz Job Figueiredo, assessor de Projetos Regulatórios da Energisa.

O grupo Energisa está dando seus primeiros passos na instalação de sistemas fotovoltaicos em áreas remotas.

A companhia de distribuição espera encerrar 2021 com 933 atendimentos nos estados do Acre, Mato Grosso, Rondônia e Tocantins. E chegar a 2026 com um total de 30,7 mil famílias atendidas.

Os projetos devem se basear em outras experiências da Energisa de universalização.

“No Pantanal, vamos fazer um atendimento para famílias que estão em uma situação muito parecida com a da Amazônia Legal. É uma região que tem grandes restrições ambientais, não tem como levar a rede convencional”

Com investimentos da ordem de R$ 134 milhões, as instalações começaram em agosto, e as soluções combinam sistemas fotovoltaico, baterias, inversores e eficiência energética nas residências.

O projeto faz parte do Programa Luz Para Todos.

“Foram contratados 210 colaboradores para instalação dos sistemas. 80% desses trabalhadores são locais. Além disso, a expectativa é que 20 profissionais fiquem permanentemente alocados para operação e manutenção dos equipamentos”, conta Job.

Fonte: EPBR

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